Pular para conteúdo

#70 um programa normal

Publicado em sexta-feira, 15 de agosto de 2025

cabeça

o programa tricerátops show dessa semana está especialmente epilético porque falamos de samba, jazz, disco music e é claro, muito barulho. falamos da carreira de clementina de jesus, sua sobra, sua música, com comentários de werinton kermes, um artista local que fez um documentário sobre a vida dessa grande voz do samba.

diretamente de nova iorque conhecemos o som do lounge lizard, os lagartos do lounge, que se auto intitula “uma banda de fake jazz”. e também de nova iorque, fazendo uma conexão do rock in opposition com o no wave a gente conhece o som da banda massacre, liderada pelo fred frith da banda henry cow.

e pra terminar, ouvimos a disco music, funk, da banda voyage. que se propõe a fazer uma viagem pelo mundo através de uma leitura completamente dançante da world music.

tocamos

participaram

werinton kermes, jornalista, produtor cultural, fotógrafo e documentarista brasileiro nascido em sorocaba. assistam o documentário clementina de jesus - rainha quelé no vimeo

recomendamos

mencionados

abraços

  • aldrei lucas, excelente intérprete johnny cash e ex guitarrista da encore break
  • ari holtz
  • jean e gabi
  • cara do new metal com bonezinho do fred durst que parou o luitz no asteroid
  • gita arte, que completou 2 anos de namoro com DJ LUITZ

otras cositas más

Transcrição

Tricerátops Show: Poderia fazer uma breve apresentação, tendo em mente que temos um público de fora da região?

Werinton Kermes: Sou jornalista e repórter fotográfico, tendo atuado na mídia brasileira em veículos como O Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo. Nos anos 1980, passei a trabalhar como fotógrafo de cinema. Entre os filmes em que atuei estão Castelo Rá-Tim-Bum – O Filme (Cao Hamburger) e Através da Janela (Tata Amaral), entre outros.

A partir dessa experiência, percebi que o universo da fotografia em movimento (cinema) estava ao meu alcance e passei a unir três paixões da minha vida: música brasileira, cinema e negritude. Meu primeiro documentário foi sobre a trajetória, ainda em vida, do cantor e compositor João do Vale. O resultado foi João do Vale – Muita Gente Desconhece, lançado em 1994.

TS: Pode falar da origem do documentário Clementina de Jesus – Rainha Quelé, dirigido pelo senhor? De onde surgiu a ideia?

WK: Sempre fui apaixonado pela música brasileira. Quando eu tinha 17 anos (hoje tenho 62), Clementina de Jesus esteve em Sorocaba para realizar um show. Naquela noite choveu muito e a apresentação foi cancelada. Eu estava lá e, de repente, uma senhora negra se aproximou para se desculpar pelo cancelamento. Era ela, Clementina de Jesus afetuosa e muito respeitosa com um jovem branco .

Essa imagem e essa gentileza me acompanharam por muitos anos. Em 2000, percebi que não existia nenhum documentário sobre ela. Então, eu e a pesquisadora Miriam Cristina Carlos Silva passamos a nos dedicar à realização do filme, mesmo Clementina já tendo falecido em 7 de julho de 1987.

TS: Qual a importância de Clementina de Jesus na música e na cultura brasileira?

WK: Clementina de Jesus ocupa um lugar de extrema importância histórica na música e na cultura brasileiras não apenas como intérprete, mas como um elo vivo entre as tradições afro-brasileiras e a música popular moderna. Sua relevância pode ser compreendida em vários aspectos, como: guardiã das raízes afro-brasileiras; reconexão do samba com sua matriz ancestral; voz única e símbolo de resistência; personagem central na valorização da cultura popular; representatividade e identidade cultural.

TS: Algum projeto novo em que o senhor esteja trabalhando?

WK: Atualmente, estou produzindo o documentário “O Samba Pede Passagem”, que mostra a trajetória do radialista Moisés da Rocha. Negro e amplamente reconhecido por seu trabalho de preservação e divulgação do samba no rádio, Moisés iniciou sua carreira em meados da década de 1970, em São Paulo, dedicando-se à música popular brasileira.

Em 1978, criou o programa “O Samba Pede Passagem”, transmitido pela Rádio USP, que se tornou referência no gênero e está há 50 anos no ar. O formato combina entrevistas, informações históricas, curiosidades e a execução de sambas clássicos e contemporâneos. Ao longo desse período, apresentou ao público paulista e ajudou a projetar nacionalmente nomes que se tornaram ícones, como Zeca Pagodinho e Fundo de Quintal. Defensor da cultura popular, construiu um acervo riquíssimo de entrevistas com sambistas históricos entre eles Beth Carvalho, João Nogueira, Paulo César Pinheiro, Monarco e Clementina de Jesus , tornando-se um verdadeiro guardião do samba, responsável por conectar gerações e manter viva a história desse gênero essencial da música brasileira.